Com a recente popularização dos livros de autoajuda, alguns pensamentos transitam pela minha mente. Uma máxima, proclamada por diversos autores desse gênero literário, sempre ecoa em meus pensamentos: a jornada é mais importante do que o destino. Existem eternas discussões sobre a coerência da frase anterior, entretanto, ponderarmos sobre a sua veracidade não é a intenção desse texto.
Se o destino é o futuro que construímos, espera-se o mínimo de justiça para que tenhamos iguais oportunidades para podermos nos desenvolver durante a jornada. Há casos, entretanto, que a autoajuda não é suficiente, em função de que dependemos dos outros para ter uma viagem agradável ao longo dos anos e lugares que passam na nossas respectivas vidas, ou jornadas.
Quando pequenos, nossa jornada se inicia com a família, onde descobrimos o amor. Com ela que formamos o nosso caráter, e com ela que vivemos em nosso primeiro lar. É lá que vamos dar os primeiros passos. E na casa dos avós e tios que conhecemos outros imóveis com cozinhas, salas e varandas.
Com o passar dos anos, ainda pequenos saímos de casa por curtos períodos para ir à escola, e lá vivenciamos a doce infância com jogos e brincadeiras. No parque brincamos na balança, no gira-gira ou na gangorra. Nos primeiros anos de escola começamos a nossa trajetória como estudantes. É nesta escola, com muitas escadas, salas amplas e banheiros apertados que temos outras referências de disciplina e amizade; e começamos a escolher a nossa direção. Na escola descobrimos os livros que nos proporcionam possibilidades de destinos ou rotas que nunca sonhamos. Nós tornamos frequentadores assíduos de bibliotecas com estantes altas que formam corredores estreitos. Ainda na escola aprendemos a praticar os primeiros esportes nas quadras, a trabalhar em equipe, e a aceitar as derrotas.
Quando adolescentes é com os amigos que vivemos várias experiências, entre elas, a de conhecer a cidade e suas praças, e são nas calçadas que fazemos os nosso trajetos.
Já jovens novos prédios passamos a frequentar. São bancos, barzinhos, clubes, restaurantes e museus. Na universidade formada por grandes edificações, com salas grandes, pátios e corredores fazemos a nossa graduação como engenheiros.
Casamos e escolhemos um imóvel para viver, depois outro e outro. E assim acontece com os nosso filhos. Porém, na jornada da vida nem todos possuem as mesmas opções devido as limitações, sendo a acessibilidade a mais importante.
A inclusão de todas as pessoas criando e tornando ambientes acessíveis para todos tem sido um diferencial para cidades e edificações, sendo um indicador da cidadania.
Tanto no Brasil como em outros países do mundo uma boa parte da população é formada por pessoas com deficiência, obesas, idosos, gestantes, autistas e seus acompanhantes. Muitas destas pessoas deixam de sair de suas casas pela falta de acessibilidade, ficando subjugadas pelo restante da sociedade, com dúvidas sobre o seu destino pelo excesso de pedras no caminho durante as suas jornadas.
Eliminar as barreiras arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações e nas informações, assim como eliminar as barreiras atitudinais e as tecnológicas, permitem que as pessoas tenham igualdade de oportunidades, e que possam seguir a sua viagem na mesma rodovia em que outras pessoas transitam, com velocidades e propósitos distintos.
A acessibilidade favorece a todos: ela possibilita que uma pessoa com deficiência entre no mesmo espaço que um atleta de corrida. Projetos detalhados de Calçadas com sinalização tátil, semáforos sonoros, rampas de acesso; edifícios multifamiliares, comerciais e industriais novos e existentes tem que possuir acessibilidade, tornando uma cidade para todos.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência de número 13.146, instituída no ano de 2015, visa assegurar a inclusão social e a cidadania, promovendo, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais para a pessoa com deficiência.
A difusão das Normas Técnicas Brasileiras como a NBR 9050 do ano de 2020 entre outras, em que pautam a acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, são de suma importância para orientar e promover as oportunidades igualitárias em espaços urbanos e ambientes público e privados.
Como profissionais registrados no Conselho Regional de Engenharia – CREA, atuando com projetos, execuções de obras, vistorias, inspeções e perícias; devemos implementar permanentemente a eliminação de todas as barreiras, informando aos clientes e a sociedade da obrigatoriedade da acessibilidade; ressaltando a necessidade de igualar as oportunidades entre as pessoas, garantindo a autonomia, o conforto e a segurança mediante a acessibilidade em edificações públicas, privadas e no ambiente urbano.
Todos esses esforços são direcionados para garantir o mínimo: independente do destino, queremos que a viagem seja justa.
Autora: Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho Silvania Miranda do Amaral – CREA 032153-7
Mestre em Engenharia e associada ao IBAPE-SC.